Minha palestra TEDx: A democratização silenciosa da IA
E um pouco de toda experiência que foi palestrar
Bem-vindos a mais uma edição :)
Na edição de hoje, trago o material original da minha palestra que aconteceu no TEDx Guararema, São Paulo, no dia 31/05/2025.
A viagem
Saí de Curitiba para São Paulo na quinta-feira à noite. Sexta cedinho, aluguei um carro e fui direto para Guararema. O evento aconteceria no sábado, mas, fomos convidados a chegar um dia antes para praticarmos nossas falas.
Ao chegar em Guararema, ficamos em um hotel bem gostoso com bastante natureza em volta. Boa comida. Bom vinho. Os palestrantes foram chegando aos poucos e fomos nos conectando.
Terra Mulungu
Em seguida, fomos para um lugar maravilhoso, chamado Terra Mulungu, para uma experiência de conexão com os outros membros.
A ida até chegarmos no nosso destino final foi repleta de paisagens de natureza e conexão. É estranho estar no meio de tanto verde, em São Paulo.
E fizemos uma prática de Yoga (sim, eu estava de jeans no meio do mato fazendo Yoga).
Foi uma experiência muito bonita e divertida.
Depois, saímos de lá direto para o Teatro onde seria a apresentação no dia seguinte, para podermos praticar as nossas palestras. Ficamos das 17h às 21h praticando.
No dia seguinte, fomos, todos os palestrantes juntos novamente, tomar um brunch e, em seguida, voltamos ao cinema para ensaiar mais uma vez.
Toda equipe do TEDx foi super simpática do começo ao fim. Toda experiência, a natureza, a conexão entre os palestrantes (pelo suor e esforço, principalmente), foi muito legal, resumindo uma experiência única de vida.
Foram 2 dias maravilhosos de conexão, esforço e ansiedade, mas, que valeram cada minuto.
No total, foram 2 meses de preparação da minha fala, desde montar o roteiro até as centenas de ensaios.
Se você quiser ver o vlog completo da viagem, pretendo soltar no meu canal do YouTube nos próximos dias - segue lá.
No fim deste texto, você pode assistir a palestra que passou ao vivo.
Minha palestra TEDx: A democratização silenciosa da IA
Abertura
Vocês já notaram que quando falamos de inteligência artificial, invariavelmente, pensamos no Vale do Silício ou em grandes corporações?
Como se criar com IA tivesse um CEP específico?
Como se a inovação só pudesse acontecer no centro, e nunca em lugares distantes dele?
E se eu disser que este modelo está completamente invertido?
No Brasil, menos de 21% das empresas usam IA efetivamente, segundo a Endeavor.
São Paulo, sozinho, concentra mais de 50% dessas iniciativas no país.
Enquanto bilhões são investidos em Startups buscando o próximo unicórnio, milhões de brasileiros nem sequer conhecem o potencial dessa tecnologia.
O que descobri na minha jornada é que, quanto mais me afastava do "grande centro urbano de São Paulo” - o epicentro tradicional da inovação – mais claramente eu enxergava o potencial transformador da IA longe desses centros, nos nichos – onde os problemas reais existem.
São as pessoas enfrentando desafios diários, longe dos holofotes, que estão silenciosamente revolucionando o mundo, usando inteligência artificial de forma criativa e globalmente acessível.
A ideia que preciso compartilhar hoje é simples, mas, poderosa: a verdadeira inovação com IA não acontece no centro - ela nasce fora dele, com pessoas comuns resolvendo problemas reais.
Quem sou eu
Meu nome é Bruno Okamoto, e eu sou um nerd. Desde minha adolescência. Sempre fui apaixonado por tecnologia e inovação.
Aos 24, fundei minha primeira Startup.
Aos 36, percebi algo importante: vivo em uma bolha tecnológica. Um universo paralelo que existe distante da realidade da maioria dos brasileiros. Um mundo com suas próprias regras e oportunidades.
Minha jornada
A Startup que fundei se chamava EUNERD - de Encontre um Nerd.
Nossa visão era diminuir a distância entre as pessoas e a tecnologia, conectando técnicos de informática com quem precisava de um Nerd. Uma pessoa que entendesse de tecnologia.
Aos 28, saí de Curitiba para São Paulo para perseguir o sonho de construir uma empresa bilionária.
Passei um terço da minha vida perseguindo o modelo tradicional de sucesso no mundo tech, até descobrir que o verdadeiro poder transformador da tecnologia estava justamente onde ninguém estava olhando.
Em 2020, vi o sonho que construí por uma década desmoronar.
A pandemia destruiu 75% do nosso faturamento em 2 semanas. E não era apenas um negócio – era minha identidade.
A minha vida, do momento que eu acordava até a hora que ia dormir, se resumia à minha empresa. Isso não estava dando certo.
Meu primeiro filho havia acabado de nascer. Passamos meses sem salário, nos endividamos em milhões de reais para não demitir nosso time na época.
Em 2022, quando a empresa finalmente se estabilizou, decidi sair do meu próprio negócio. Voltei para Curitiba para começar do zero. De novo.
Descoberta da IA
Quando saí da minha empresa, neste momento, eu estava completamente perdido.
O que um empreendedor faz quando deixa o negócio que definiu sua vida por mais de uma década?
Eu fiz o que pude, com o que eu tinha.
Vendi consultorias, dei aula, montei infoprodutos, todo endividado, fui dando um jeito de sobreviver dia após dia, enquanto buscava algo que unisse meu conhecimento da bolha tech com novas oportunidades.
Em paralelo, percebi um movimento: as novas Startups de IA, mundo afora, começaram a nascer oferecendo soluções mais simples, nichadas, que resolvem uma ou duas coisas muito bem.
Essa percepção se transformou em uma oportunidade, e decidi começar uma comunidade para falar sobre empreendedorismo digital.
Mas, não uma comunidade tech comum.
Uma comunidade fundamentada em uma revelação: qualquer pessoa, em qualquer lugar, com pouco conhecimento técnico, pode usar ferramentas de IA para criar soluções e gerar valor.
Eu acredito que a IA pode ser a maior oportunidade de transformação social e econômica da nossa geração. De forma descentralizada e hiperlocal.
E isso é revolucionário.
Cases
Essa comunidade cresceu, e hoje são mais de 15 mil empreendedores que compartilham ideias e sonhos.
Deste grupo, nasceram quase 3 mil ideias de base tecnológica que estão mudando o mundo pelos nichos. Muitas delas, em contextos locais distantes que as grandes empresas de tecnologia jamais considerariam.
Como o Yuri. Depois de ver sua mãe perder dinheiro com golpes de PIX falsos, ele criou - com pouco conhecimento técnico - um sistema simples de comprovação de PIX, que hoje protege mais de 1.000 pequenos comércios pelo país, salvando milhões em fraudes evitadas.
Ou como o Paulo, advogado criminalista de uma cidade pequena, que desenvolveu um assistente de IA que economiza 40% do tempo na redação de peças jurídicas. Hoje, atende mais de 20 mil advogados em todo o país.
E o João, ex-estudante de veterinária, que criou uma IA para outros colegas veterinários, que hoje atende mais de 1.000 estudantes e profissionais em zonas rurais, ajudando veterinários em todo o Brasil, recém-formados e sem experiência.
O que une essas histórias?
São soluções desenvolvidas por pessoas que estão nas "bordas", não nos "centros".
Pessoas que conhecem profundamente os problemas porque os vivenciam diariamente.
Casos como este estão deixando de ser exceção, e se tornando o novo normal.
Quebra de objeção
"Mas, Bruno," você pode estar pensando, "nem todo mundo pode ou quer virar um empreendedor de tecnologia".
E você está absolutamente certo. Mas, existem possibilidades.
O agricultor pode continuar cultivando a terra, mas, usa IA para prever condições climáticas.
A cabeleireira continua no salão, mas, cria um assistente de IA para fazer agendamentos automatizados.
O professor continua dando aulas, mas, desenvolve um tutor de IA para seus alunos.
O poder da IA democratizada está em ampliar capacidades, não em substituir identidades. É permitir que qualquer pessoa crie soluções inteligentes sem abandonar suas atividades principais.
É uma forma de desenvolvimento que não exige abandonar raízes, mas, que abre novas possibilidades de realização.
Conclusão: conectando mundos
A tecnologia, quando democratizada, tem o potencial de criar pontes entre mundos que hoje parecem desconectados.
Não estou sugerindo que todos devam se tornar programadores ou especialistas em IA. Estou propondo que ampliemos as nossas perspectivas sobre onde e como a inovação pode acontecer.
A verdadeira transformação tecnológica não acontece apenas nos grandes centros, mas, nos espaços mais improváveis. Em comunidades sobre as quais nunca ouvimos falar.
O que estamos vendo é o início de uma descentralização da inovação, em que pessoas comuns encontram nas ferramentas digitais um meio de criar novas possibilidades para si mesmas e suas comunidades.
É sobre dar às pessoas opções.
Opções de permanecer onde estão, sem renunciar de nada.
Opções de resolver seus próprios problemas com as ferramentas disponíveis.
Opções de conectar conhecimentos locais com tecnologias globais.
Quando diferentes realidades se encontram e dialogam, todos saímos ganhando.
É nisso que acredito e é por isso que compartilho essa ideia com vocês hoje.
Obrigado.