O Startupeiro vs O lifestyle business. O mindset dos cases de R$ 100k de MRR
Os estágios que os founders early-stage passam
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O Startupeiro vs O lifestyle business. O mindset dos cases de R$ 100k de MRR
Ah, férias! Voltei ontem, dia 17/24, de 10 dias off. Nem lembrava quando tinha sido a última vez que descansei a mente do trabalho.
O desafio de gerir uma comunidade, produzir conteúdo e administrar empresas consiste no fato de que você raramente desliga. Não estou falando de se desligar das redes sociais, mas, desligar a cabeça e deixar a vida levar.
Nessas férias, fui para o Chile e para a Argentina com minha esposa e meus filhos. Essa pausa mental me fez um bem danado. Isso me faz lembrar da importância da saúde como empreendedor, e de saber desligar e resetar as baterias.
Durante meu retorno das férias, vim pensando muito sobre quais projetos e negócios eu vou investir mais energia neste final de ano, e um desses projetos vai ser meu Micro-SaaS, para o qual estabeleci a meta de R$ 100k de MRR.
A ideia deste artigo veio de uma reflexão sobre o tipo de negócio que eu quero transformar meu Micro-SaaS: escalar time ou montar um negócio gerador de caixa? Então, bora refletir sobre os dois lados da moeda com dois empreendedores da Comunidade Privada.
No mundo do SaaS
Na Comunidade de Micro-SaaS, temos poucos projetos que ultrapassaram a barreira dos R$ 100k de MRR (faturamento recorrente mensal). A grande maioria dos projetos nasceu com a ideia de ser um projeto paralelo para gerar uma renda extra, e raramente o foco é triplicar de tamanho mês a mês.
No artigo de hoje, quero trazer uma reflexão sobre os estágios que os fundadores early-stage passam para chegar nos R$ 100k de MRR.
Já tive e já vi essa experiência em diversos negócios, tanto meus quanto de investidores ou mentorias que acompanhei de perto. Inclusive, há os exemplos de 2 membros da minha Comunidade Privada.
O sonho da Startup vs Lifestyle business
Vou começar dando um contexto sobre os empreendedores e seus projetos.
Um dos empreendedores se chama Paulo, e o outro se chama José. Ambos construíram seus projetos como um pequeno projeto paralelo a sua atividade principal.
Por questões de privacidade, vou apenas mostrar uma foto de cada um e sem citar os sobrenomes nem seus negócios.
Paulo, o advogado
Paulo é cria da minha da minha primeira turma da Escola de Micro-SaaS. No seu primeiro aniversário de CNPJ, ele já estava com R$ 98k de MRR.
Ele começou literalmente com um bot de WhatsApp para advogados. Seu foco era ajudar os advogados a ganharem tempo usando IA para criar documentos cotidianos.
Sua ferramenta foi evoluindo com o tempo, até se tornar um bot de WhatsApp + SaaS (mesmo caminho do MGM).
Sua visão é bem clara: construir um time vencedor, pisar no acelerador, e ganhar mercado. Ou seja, construir uma Startup de alta escala.
José, o piloto
José, também membro da minha Comunidade Privada, em menos de 12 meses estava com um side project que lhe rendia R$ 100k por mês.
José é piloto de helicóptero, e ama pilotar. Ele tem dois dias de folga durante semana e, nesse tempo, foi construindo ferramentas para ajudar no seu dia a dia. Com o tempo, isso foi evoluindo, até virar um SaaS que atende pequenos provedores de internet.
Esse SaaS, junto com mais dois sócios (que também são pilotos), foi crescendo em um ritmo acelerado, mesmo sem nenhum dos sócios estarem trabalhando full-time no projeto.
Sua visão é bem clara: construir um negócio que gere renda com baixo esforço operacional. Ou seja, um lifestyle business.
Qual é a diferença entre ambos os empreendedores?
O estilo de vida que cada um quer levar.
Enquanto um quer manter um lifestyle business, ganhando uma bela renda extra, mas, tendo ainda a profissão que tanto ama e tempo para a família, o outro quer construir uma grande Startup e pegar uma fatia do mercado.
A ideia deste artigo é contar um pouco sobre os estágios pelos quais ambos passaram. Eu tive o privilégio de acompanhar os projetos e os empreendedores, e vou contar um pouco mais sobre sua trajetória.
Os 4 estágios dos founders early-stage
Ambos começaram resolvendo um problema muito bem e de forma simples. O foco não era construir um super negócio, mas, construir algo que pudesse gerar uma renda recorrente e, ao mesmo tempo, resolver um problema.
Neste estágio o foco dos empreendedores foi 100% em lançar um negócio rápido e pegar feedback dos clientes.
O foco de ambos se constituiu em construir um MVP rápido, pegar feedback dos clientes, e focar em vendas desde o primeiro dia.
Paulo focou em panfletar em um evento em sua cidade, em que prospectaria possíveis clientes. Seu produto, na época, foi construído usando uma simples ferramenta de automação no-code (N8N) e o ChatGPT. Quando saiu do evento, já tinha 20 assinantes pagando R$ 10 reais cada.
José fez um bot no Telegram para resolver uma dor para si e seus colegas pilotos. Dessa ideia, resolveu usar o mesmo bot para outros nichos para ver se alguém pagaria pela solução. Com os feedbacks que foi recebendo, pivotou seu negócio até construir um SaaS de multiagentes para Whatsapp.
Neste estágio até R$ 10k de MRR o foco foi 100% em continuar pegando feedbacks, refinando proposta de valor e a jornada dos clientes - tudo isso porque já tinham um canal que estava mostrando sinais de tração.
Até R$ 20k de MRR: o foco foi 100% em vendas, suporte e produto. Nessa ordem.
Ambos os empreendedores começaram com tráfego pago. O canal pago é o favorito dos empreendedores que mais cresceram na nossa Comunidade Privada.
O mais importante, nessa etapa, foi estar próximo dos clientes para construir as primeiras funcionalidades core do negócio, além de ir mapeando mais informações de quem é o público-alvo.
Paulo focou em construir uma Comunidade no WhatsApp com seus assinantes. Dessa forma, conseguiu estar próximo das pessoas e ir aprendendo tudo sobre seu público-alvo, suas dores e suas necessidades.
José focou em trazer um sócio comercial para fazer onboarding de todos os clientes, um a um, para entender melhor suas dúvidas, receios e dores.
Ambos focaram em oferecer um suporte rápido para suportar a escala. O produto, naturalmente, foi sendo otimizado com novas funcionalidades, e a maioria dos bugs e cancelamentos iam sendo resolvidos no suporte.
Ambos conseguiram, nesse meio tempo, ter uma certa previsibilidade no investimento do canal pago.
Curiosidade
Os 3 principais canais de mais rápido crescimento para os projetos da Comunidade foram: tráfego pago (Ads), afiliados, e parceria com influencers.
De R$ 20k até 100k (R$ 1M+ ARR):
Paulo focou em crescer uma estrutura de desenvolvimento e suporte. A maior parte do seu público é B2C, e seu maior desafio é estancar o churn. Seu maior canal de crescimento se mantém no tráfego pago, mas, ele já está investindo em outros canais, como SEO e conteúdos virais em redes sociais.
Paulo também tem reinvestido 100% do faturamento do seu próprio negócio, e está montando um time que já passou de 10 pessoas, entre desenvolvedores e suporte.
Outro ponto relevante é que o Paulo está tentando criar produtos para B2B, pois entende que o B2C pode ser complicado de escalar no médio/longo prazo.José focou em melhorar seus processos e otimizar seu produto. Tem um sócio que trabalha na área comercial, um sócio que trabalha como desenvolvedor, e mais duas pessoas que fazem parte do time e ajudam com vendas e suporte.
Sua estrutura está focada em ser enxuto, ágil e “leve”, pois todos os sócios ainda trabalham em outras atividades diferentes do Micro-SaaS. Todo trabalho é feito de forma assíncrona e em modo home-office. As metas e processos são bem claros para todo mundo.
O desafio de José está nas vendas, que têm batido no mesmo teto, todo mês. Basicamente, geram mais leads do que conseguem realizar vendas (problema bom, heim?), e curtem crescer nesse ritmo, alinhado a uma equipe contente e com tempo disponível para seus outros trabalhos e famílias.
Ambos focaram em suporte, e em construir uma estrutura comercial enxuta e rápida. Uma vez que o canal se tornou previsível, o foco direciona-se totalmente ao produto e à retenção de usuários.
O desafio da escala
Escalar dói. Só quem escalou uma empresa sabe como é. Tudo quebra.
O desafio de escalar um negócio bootstrapp é muito diferente do desafio de escalar um negócio com investimento. Os founders precisam manter-se enxutos, e cada centavo conta. Não é fácil trazer pessoas boas, montar processos rápidos, melhorar o produto e conseguir atender toda a demanda sem deixar os pratinhos caírem.
Do Micro-SaaS para Startup (Paulo)
Até chegar nos R$ 20k de MRR, Paulo não estava trabalhando full-time no projeto. Quando ele mergulhou, decidiu que seria o menor salário do seu negócio, e reinvestiu uma parte significativa do faturamento no projeto para que continuasse crescendo. Montou time rápido, fez um super projeto de rebranding, e investiu em produção de conteúdo e em criar um mercado.
O 5 maiores desafios de Paulo
Concorrência: havia vários concorrentes surgindo e alguns com investimento de Venture Capital.
Retenção (proposta de valor): Paulo demorou um tempo para descobrir qual era sua real proposta de valor e, quando descobriu, dobrou o faturamento da noite para o dia.
Governança: com o crescimento do negócio, Paulo teve alguns desentendimentos societários, e precisou organizar um processo de recompra de seus sócios.
Fluxo de caixa: por conta do ticket médio relativamente baixo de B2C, Paulo teve que quebrar a cabeça para descobrir como fazer caixa para investir no seu negócio. Uma saída foi investir bastante em jogadas de marketing para fazer vendas anuais.
B2C vs B2B: o desafio da escala do B2C é sempre a retenção. Existe muita oscilação no churn, além de uma demanda de infraestrutura tanto de equipe como de produto maior.
Do Micro-SaaS para o lifestyle business (José)
José tem mais 2 sócios. Diferente do Paulo, são 3 sócios cuidando do negócio como uma atividade paralela a sua principal. Além disso, nenhum pensa em sair do ramo público para se dedicar integralmente ao SaaS.
O pensamento é simples: construir um lifestyle business – um negócio que gere uma renda adicional para os sócios, mantendo um padrão de esforço vs retorno sob controle. O foco de José nunca foi escalar seu negócio rápido, mas, sim, manter o mesmo padrão de vida.
Com isso em mente, José montou uma equipe enxuta que treinou desde o primeiro dia. Paga salários competitivos, e remunera com comissões. O foco de José manteve-se em criar uma equipe enxuta e feliz, que provavelmente não tem a pretensão de trocar de emprego tão rapidamente.
O segredo para continuar escalando foi achar um meio termo entre o negócio caminhar com as próprias pernas e o tempo disponível que tem para testar novos negócios que gerem valor para seus clientes.
Sua concorrência também é baixa, por ser um mercado pequeno e pouco conhecido. A maioria das pessoas não buscam entrar nesse mercado. Isso dá um pouco de tranquilidade para os sócios.
O que ambos têm em comum
Ambos tiveram que construir uma estrutura flexível para escalar. A escala não se trata somente de contratar pessoas e crescer as vendas, mas, trata-se, também, de arrumar a casa para comportar as próximas etapas da jornada.
De nada adianta pisar no acelerador se seu negócio vira um castelo de cartas. Por isso, é necessário ter muita habilidade de execução para saber o que priorizar.
Framework flexível
Para escalarem seus negócios, ambos precisaram criar um framework de contratação e gestão de fornecedores – desenvolvedores, artes, landingpage, vendas, marketing, etc.
Todo mundo precisou e precisa contratar fornecedores e, sem essa estrutura e agilidade, teriam demorado muito mais tempo, e teriam muito mais custos.
Sociedade é a chave
Outro ponto importante é que ambos os empreendedores têm sócios. A distribuição de responsabilidades e a autonomia foram cruciais para cada tipo de escala.
Ter sócios é importante, nesses momentos, para poder dividir as responsabilidades, porém, é necessário que haja um alinhamento constante de expectativas.
Imagine o Paulo querer pisar no acelerador, e seus sócios não? A empresa não vai para a frente.
O founder low profile vs o public builder
Esse ponto é curioso. Tanto Paulo quanto José são muito bons no que fazem. Ambos fazem parte da minha Comunidade Privada, e são bem ativos no ecossistema. Entretanto, os dois tem visões diferentes sobre a construção do personal branding.
O Paulo
Paulo tem um perfil mais público.
Durante seu crescimento na comunidade, foi compartilhando suas experiências de erros e acertos, o que fez com que cada vez mais pessoas se aproximassem dele. Sempre investiu muito tempo em construir networking e autoridade pessoal – e esse perfil é muito comum entre os Indie Hackers, que fazem build in public.
Isso o incentivou a se tornar cada vez mais público com seus dados e experiências, e essa abertura o transformou em um public builder - um empreendedor que compartilha publicamente suas experiências e dados do seu negócio, enquanto cria autoridade como personal branding.
O José
José está sempre no top 3 dos mais ativos da minha Comunidade Privada, mas, ele é totalmente low profile. Ou seja, não gosta de aparecer em nada, não produz conteúdo, e só quer construir seu negócio no seu canto, ajudando os outros empreendedores e incentivando a galera a construir seus negócios.
A autoridade do José fica limitada “apenas” na minha Comunidade, e isso já o deixa muito contente, porque ele continua ajudando e gerando valor, mesmo que em uma escala menor – mantendo sua privacidade como empreendedor.
A real diferença dos perfis
A diferença entre eles está mais no objetivo do empreendedor.
Paulo tem um foco maior em se tornar uma referência de mercado, e entende que produzir conteúdo é uma etapa importante para ganhar autoridade e crescer seu negócio organicamente (principalmente por ser B2C).
Já José prefere ter uma vida mais privada, longe dos holofotes. Conteúdo não lhe interessa, porque seu negócio é totalmente B2B, e funciona sem ele.
Conclusão
Não importa qual caminho você quer seguir – transformar seu Micro-SaaS em uma Startup, ou virar uma máquina geradora de riqueza, life stylebusiness.
O que importa, no fim do dia, é o problema que você resolve, como você o resolve, e quanto as pessoas pagam por isso. Quando você acerta essa equação, o seu negócio cresce, e você pode decidir qual ritmo de crescimento você quer seguir.
Outro ponto crucial é que ambos focaram, desde cedo, em descobrir um canal de aquisição, além de pensar em governança. Ou seja, pensar na estrutura societária, nas responsabilidades e na distribuição de lucro.
Não tem certo ou errado. Virar uma Startup ou construir um negócio lifestyle. Ambos caminhos vão te abrir várias portas e você vai aprender muito, mas cada um tem um destino diferente.
Qual é o maior segredo deles? Estar perto de seus clientes.
Obrigado por ler até aqui :)
Ótimos cases!
Vejo alguns devs (principalmente no-code) construindo seus micro-saas enquanto trabalham como freelancers ou com uma agencia não consolidada no mercado. Acredito que fica muito díficil construir nessa "fase" da carreira.
No meu ponto de vista ter uma fonte de renda segura ou um trabalho "estável" proporciona mais tranquilidade no processo e uma maior change de sucesso do projeto. O que você acha?
Eu adoro lifestyle businesses. Muito bacana os cases!