11 lições do exit de $80M em 6 meses do solo founder da Base44
O case mais fascinante que conheci recentemente
Bem-vindos a mais uma edição :)
Esta edição está super divertida. Analisei a entrevista do Maor Shlomo (founder do Base44), e tirei as principais lições que me marcaram.
Quer fazer parte do grupo de networking mais foda de negócios do Brasil? 👇🏽
11 lições do exit de $80M em 6 meses do solo founder da Base44
O artigo de hoje é um estudo de caso da jornada do Maor Shlomo, com sua startup Base44, que, em 6 meses, saiu do zero para uma venda completa por $80milhões pela WIX - esse cara fez história.
Este post é um estudo de vários posts do Maor em seu LinkedIn, junto com vários trechos da entrevista do podcast do Lenny, que está disponível no YouTube (inclusive, super recomendo).
Quem é Maor Shlomo
Empreendedor israelense e solo fundador da Base44;
Ex-CEO da Explorium (empresa anterior que ele liderou por 7 anos, levantou $130 milhões, no espaço de dados/enterprise);
Veterano militar - foi convocado para as reservas durante a guerra de 7 de outubro por quase um ano;
Desenvolvedor/programador - voltou às origens técnicas depois de anos como CEO;
Tem TDAH severo - o que ele considera um superpoder quando bem gerenciado;
Baseado em Israel - enfrentou duas guerras durante a jornada da Base44.
O que é/faz a Base44
Plataforma de construção de apps com IA, em que você usa linguagem natural para descrever o que quer construir (app, jogo, website);
Abordagem "baterias incluídas" - cada app vem automaticamente com:
Banco de dados integrado;
Sistema de autenticação de usuários;
Integrações prontas;
Analytics;
Sem necessidade de conectar serviços terceiros ou trazer APIs próprias.
Diferencial técnico: foco em full-stack desde o início, ao invés de só front-end + integrações como a maioria dos concorrentes;
Target: principalmente builders/criadores que querem transformar ideias em aplicações funcionais rapidamente;
Concorrentes: Lovable, Bolt, Replit, v0 (Vercel), Cursor.
Sobre a dor e a ideia do Base44
Tudo começou quando Maor tentou criar um site para sua namorada artista, e ficou frustrado com as ferramentas disponíveis. Até os famosos drag-and-drop eram difíceis de integrar e viravam uma bagunça com sistemas, bancos de dados dos leads, etc.
A segunda frustração vinha do trabalho voluntário que Maor fazia com a organização de Escoteiros em Israel. Não era uma ONG pequena - estamos falando de dezenas de milhares de pessoas, uma operação gigante que constantemente precisava de sistemas internos.
O que Maor identificou foi que essa dor era muito parecida. Todo mundo tinha uma necessidade de software, não tinham desenvolvedores internos, aí tinham que procurar agências externas. E as agências? Cobravam fortunas.
Mesmo essas soluções "no-code" ainda exigiam conhecimento técnico. Você precisava saber um pouco de JavaScript, entender como fazer integrações, ter noção de lógica de programação, e por aí vai.
"Sei que modelos podem escrever o código para fazer exatamente o que estou tentando fazer. Só não têm a infraestrutura certa."
Lição 1: O MVP não tão mínimo
Lembra do livro Lean Startup do Eric Ries? Maor fez exatamente o oposto. Criou um produto com back-end e front-end completo, mas, em vez de ficar imaginando como as pessoas usariam a primeira versão do seu sistema, Maor convidou 3 amigos próximos e, literalmente, sentou do lado deles enquanto usavam o produto. Quando algo quebrava, ele consertava ali mesmo e fazia push para produção. Ficaram nisso por semanas.
"Se você está construindo algo que as pessoas não conseguem usar direito, especialmente, hoje, que é muito fácil construir software, o tempo de atenção das pessoas está cada vez menor."
Aos poucos, o Micro-SaaS do Maor (diga-se de passagem) estava melhorando em tempo real. Cada erro que seus amigos identificavam era corrigido em minutos, e não em sprints de duas semana.
A métrica que ele usava era simples: "Não vou tentar escalar nada antes de saber que os usuários gostam. A melhor métrica para ver se estão gostando é se começam a compartilhar com alguém." Quando seus três amigos começaram a contar para outros amigos sobre a ferramenta, Maor soube que tinha algo.
Lição 2: Não crie expectativa com lançamentos internacionais
Em janeiro, Maor decidiu lançar no Product Hunt. Foi um fracasso épico. Conseguiu uns 50 usuários, 15 novos. Para a maioria dos founders, isso seria desanimador. Para Maor, isso significou apenas dados.
"Pessoas, às vezes, tratam lançamentos como sucesso ou falha. Para mim, não foi o caso."
Mas, algo interessante aconteceu com aqueles 50 usuários: o primeiro pagou. Maor ficou chocado. Vindo do mundo enterprise, que conhecia da sua empresa anterior, não conseguia entender como alguém pagaria por um produto sem negociação, sem olhar nos olhos, sem pedir desconto. O usuário cancelou algumas horas depois porque o produto ainda não estava bom, mas, a semente estava plantada.
Foi nesse momento que um amigo deu o conselho que mudou tudo:
"Por que você não compartilha sobre estar construindo sozinho, sem VC? Sua audiência são builders, e isso vai ressoar diante deles."
Maor começou a postar sua jornada no LinkedIn, mas, não do jeito que a maioria faz.
Lição 3: Build in public
A maioria dos founders que faz build in public compartilha apenas os sucessos, as métricas bonitas, os momentos de glória. Maor fez o oposto: foi brutalmente honesto. Compartilhava quando estava travado, quando não sabia se o time de desenvolvimento estava fazendo certo, quando teve que demitir pessoas, quando o sistema caiu, e assim por diante.
Eu lembro de um post em que ele contava sobre estar no casamento do irmão (ele ia fazer a cerimônia), quando recebeu uma ligação dizendo que alguém havia hackeado a Base44 e estava rodando um esquema cripto. Maor precisou sair na hora das fotos do casamento, abrir o laptop, e passar duas horas investigando. No fim, era só o LLM tentando usar um pacote JavaScript chamado "cryptography", que não tinha nada a ver com criptomoedas.
Esse tipo de honestidade criou algo raro: uma comunidade que torcia de verdade pelo sucesso dele. As pessoas se identificavam com as dores, celebravam as vitórias pequenas, e davam feedbacks genuínos. Não era apenas marketing, era conexão humana real.
Lição 4: criando um sistema de indicação
Em um dos meus artigos mais lidos aqui da newsletter, chamado de As características de Micro-SaaS perfeito, eu trago uma descrição de várias características as quais considero que um projeto de sucesso pode ter - e o Maor acertou, implementando absolutamente todas em seu produto, principalmente o coeficiente viral, que foi uma das maiores alavancas de crescimento do projeto.
Conforme o build in public crescia e o LinkedIn naturalmemente se tornava o maior canal de aquisição para sua empresa, Maor foi percebendo algo interessante: as pessoas adoravam compartilhar o que estavam construindo com a Base44. Apps para ajudar avós com Alzheimer a reconhecerem seus familiares, ferramentas para pequenos negócios, jogos criativos, etc. Cada post no LinkedIn ou Twitter sobre algo feito na plataforma trazia mais usuários.
Ao invés de tentar criar campanhas complexas, Maor fez algo simples: criou um programa em que quem compartilhasse o que construiu ganhava créditos extras para construir mais. No início, era manual - as pessoas mandavam o link por email, e ele dava os créditos à mão.
Um amigo chegou a perguntar quanto ele estava pagando para as pessoas postarem sobre a Base44. "Não estou pagando nada", Maor respondeu. Era orgânico porque as pessoas realmente gostavam do produto e queriam mostrar o que conseguiram criar.
Lição 5: Quando o MVP encontra o canal de distribuição certo
Com o crescimento orgânico, tanto por meio de conteúdo como de indicação, o Base44 saiu de 20 usuários novos por dia para 4.000 usuários entrando em um único dia. O sistema não aguentou, e aqui fica uma grande lição sobre crescimento acelerado (o que é raro, então, não ache que isso vai acontecer com o seu negócio desde o primeiro dia): você pode ter o melhor produto do mundo, mas, se a infraestrutura não segura, vira pesadelo.
Maor não era um DevOps experiente. Estava usando todos os planos gratuitos que conseguia para manter a operação lucrativa. Quando o tráfego explodiu, ele descobriu na prática coisas como limites de CPU virtual, gargalos de banco de dados, e todos os outros problemas que founders de alto crescimento enfrentam.
A diferença é que ele estava sozinho. Não tinha uma equipe para dividir o fogo. Não tinha um CTO para resolver a parte técnica enquanto ele cuidava do business. Era Maor, um laptop, muitas horas sem dormir, e uma base de usuários crescendo exponencialmente que esperava que tudo funcionasse perfeitamente.
Lição 6: Produto refinado, marketing otimizado
Meses depois, Maor decidiu tentar o Product Hunt novamente. Dessa vez, a comunidade que havia construído se mobilizou. Era incrível de assistir: dezenas de posts no LinkedIn pedindo para as pessoas votarem, threads no Twitter, mensagens no WhatsApp.
Quando você tem uma junção de produto que funciona e retém, com um coeficiente viral alto que gamefica o compartilhamento dos usuários, e um canal de aquisição que funciona, você tem uma oportunidade de ouro em suas mãos.
Além disso, Moar também construiu uma comunidade fiel de membros e seguidores, permitindo que ele escalasse sua ferramenta, sem necessariamente crescer sua equipe de suporte.
Curiosidade
Por volta do meio-dia, a Base44 sequer estava no top 10. Seu SaaS já tinha mais de mil votos. Alguma coisa estava errada.
A comunidade também percebeu, e alguém entrou em contato com o suporte do Product Hunt:
"Vocês deveriam verificar o algoritmo. Procurem 'Base44 Product Hunt' no LinkedIn e vejam quantos posts há pedindo votos em comparação com os upvotes que aparecem."
O Product Hunt reconheceu o erro, corrigiu, e a Base44 saltou para primeiro lugar com 500 votos de diferença do segundo colocado. Foi um momento que mostrou o poder da comunidade real versus métricas manipuladas. Quando as pessoas genuinamente gostam do que você está fazendo, elas lutam por você.
Lição 7: Competindo contra bilhões
Enquanto isso, Maor estava competindo contra empresas que haviam levantado dezenas de milhões. Lovable, Bolt, v0, Cursor - todas com equipes grandes, orçamentos de marketing robustos, e parcerias estratégicas. Como um cara sozinho em Israel poderia competir?
A resposta veio de uma realização poderosa: o jogo havia mudado.
Maor havia otimizado todo o seu stack para trabalhar com IA. Gastava 20-30% de seu tempo criando infraestrutura que permitisse aos LLMs escrever o mínimo de código possível. Usava JavaScript puro ao invés de TypeScript, porque era mais fácil para as IAs.
Mantinha front-end e back-end no mesmo repositório para dar contexto completo às IAs. Até criou um sistema de roteamento que mandava diferentes tipos de requests para diferentes modelos - Claude para UI, e Gemini para problemas complexos.
"Mesmo sendo solo, você está gerenciando equipes de AIs escrevendo código. Não escrevi uma linha de HTML ou JavaScript nos últimos três meses, mas, ainda assim, o front-end da Base44 muda muito porque a IA escreve isso."
Lição 8: Quando crescer a equipe
Por cinco meses, Maor tocou tudo sozinho. Programação, marketing, suporte, vendas, tudo. Quando finalmente contratou alguém - apenas um mês e meio antes da aquisição - não foi um desenvolvedor. Foi uma pessoa de produto.
"Alguém que pode entrar nos logs do LLM e analisar erros, escrever scripts Python, implementar analytics. Um faz-tudo técnico", ele explicou.
A primeira coisa que Maor disse para o novo contratado foi:
"Agora você cuida de growth."
O cara respondeu:
"Nunca fiz growth em lugar nenhum."
Maor, então, afirmou:
"Agora faz. Vamos aprender juntos."
Essa decisão refletia algo que aprendi estudando este case: Maor não estava tentando construir uma empresa. Estava tentando construir uma ferramenta incrível da maneira mais eficiente possível. Sua primeira contratação veio quando seu negócio já estava faturando mais de $200k de MRR.
Lição 9: M&A (venda e aquisição)
Em maio de 2024, a Base44 estava lucrativa, crescendo, com uma comunidade apaixonada. Maor poderia ter continuado independente por anos, construindo um lifestyle business sólido. Aí a Wix apareceu.
"Este mercado estava se movendo mais rápido do que qualquer coisa que já vi. Em algum momento, percebi que isso poderia realmente ajudar pessoas com suas vidas. Vamos para a liga principal.”
A Wix não era apenas uma compradora - era um fit estratégico perfeito. Mesmo DNA, mesma base de clientes, equipe que sabia escalar produtos de construção de sites. E Maor estruturou o deal de forma inteligente: uma parte significativa da compensação do pagamento vem de earnouts (ganhos futuros) baseados no crescimento futuro. Ele continua com skin in the game.
Lição 10: O timing
O que muitos não perceberam é que Maor tomou a decisão de vender no momento certo, por uma razão estratégica: ele entendeu que estava montado em uma onda gigante, que iria quebrar de forma rápida.
"Conforme os LLMs ficam melhores, engenheiros 10X vão virar engenheiros 100X, porque conseguem gerenciar LLMs melhores. Não é tamanho de equipe nem funding que ganha categoria."
Mas, também sabia que essa janela de oportunidade para players pequenos não duraria para sempre.
Grandes empresas como Microsoft, Google e Meta estavam entrando de forma pesada no espaço. Eventualmente, ter distribuição e recursos iria importar novamente. Maor vendeu no ponto mais alto onda, quando ainda tinha máxima vantagem competitiva como solo founder com product sense apurado.
Lição 11: O mindset do founder que captou milhões para empreendedor solo (solopreneur)
O que mais me impressionou em toda essa jornada foi a filosofia de Maor. Diferentemente de sua empresa anterior (Explorium), em que estava obcecado por levantar o máximo de dinheiro no menor tempo, com a Base44 ele tinha uma abordagem completamente diferente.
"Pela primeira vez na vida, não estava tentando construir a maior coisa de todas. Só queria voltar a fazer o que realmente amo, que é construir produto."
Ele contou que a meta original era chegar a $1,5 milhão em ARR até o final de 2025 para comprar um carro bonito. Chegaram lá em quatro semanas.
Essa mentalidade de "não colocar pressão em si mesmo", paradoxalmente, criou as condições para um sucesso muito maior. Quando você está genuinamente curtindo o processo, fazendo algo que ama, as decisões ficam mais claras, a energia se mantém alta por mais tempo, e você atrai pessoas que querem apoiar sua jornada.
Mais algumas lições em sua jornada
Resumidamente, as principais lições que pude tirar aprendendo sobre a história de Moar Shlomo com o hipercrescimento do Base44 foram:
Sobre produto: MVPs podem ser overrated. Se você consegue construir algo que realmente funciona desde o dia 1, e tem os recursos para isso, pode ser melhor do que iterar em cima de algo quebrado.
Sobre equipe: Ser solo não é necessariamente uma desvantagem se você sabe usar as ferramentas certas. IA mudou fundamentalmente a produtividade individual de developers bons.
Sobre crescimento: Build in public funciona quando é genuíno. Não é sobre postar métricas bonitas, é sobre se conectar humanamente com pessoas que torcem pelo seu sucesso.
Sobre competição: Conhecimento sobre os clientes e velocidade de execução podem vencer funding quando você está surfando uma onda tecnológica nova.
Sobre timing: Às vezes, saber quando sair é mais importante do que saber quando entrar. Maor vendeu na altura da sua vantagem competitiva, e não quando estava desesperado.
Sobre energia: Maor tinha uma regra - 50% do tempo deveria que estar fazendo coisas que genuinamente gostava, e isso era bom.
O futuro do Base44
Hoje, integrado à Wix, Maor está construindo a próxima versão da Base44 com recursos que jamais teria como solo founder. Mas, os princípios que o levaram até aqui continuam os mesmos: resolver problemas reais, ser transparente com a comunidade, mover-se rapidamente, e se divertir ao longo do processo.
Para founders que estão começando agora, a mensagem da jornada da Base44 é clara: este é, realmente, o melhor momento para construir. As ferramentas nunca foram tão poderosas, as barreiras técnicas nunca foram tão baixas, e uma pessoa motivada com uma boa ideia pode competir com qualquer um.
Como Maor disse:
"Estamos no início de uma era maior do que a revolução da internet. Apenas faça algo que gosta - isso pode ser mudança de vida. E se não der certo, pelo menos você terá pouco arrependimento no futuro."
A Base44 provou que você não precisa de co-founders, não precisa de milhões em funding, e não precisa de uma equipe de 50 pessoas. Você precisa de uma ideia que resolva um problema real, disposição para ser transparente com sua jornada, e energia para aparecer todo dia e fazer o trabalho.
O resto, como Maor mostrou, é consequência.
Obrigado por ler até aqui :)
Este case study foi baseado na entrevista completa de Maor Shlomo no podcast do Lenny Rachitsky, e em acompanhar sua jornada build in public nos últimos meses.