Montando audiência e vivendo de Micro-SaaS
O lifestyle business do nômade digital que tem 100k seguidores +4 MicroSaaS
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A história do Indie Hacker Tony Dinh
Como ele montou uma audiência com 100 mil seguidores no Twitter e vive exclusivamente da renda de seus 4 Micro-SaaS
O artigo de hoje é um pouco diferente. Eu li recentemente a última edição de da newsletter de Tony Dinh, contando sua história desde o início de sua jornada como Indie Hacker. Achei extremamente profunda e sábia sua experiência na construção de seu portfólio de Micro-SaaS e resolvi trazer para vocês este conteúdo em primeira mão (e em português).
Espero que a história dele de certa forma inspire e ajude na construção do seu primeiro negócio. Pegue um café pois a leitura é longa ☕️
Quem é Tony Dinh
Tony é um empreendedor digital que está desde 2021 construindo Micro-SaaS publicamente em seu Twitter. Em 2 anos:
Largou seu emprego CLT e mergulhou no mundo Indie;
Criou 4 produtos pequenos e bem sucedidos ($45k de MRR/$540k ARR);
Montou uma audiência com quase 100 mil seguidores no Twitter;
Montou uma newsletter com 6k assinantes;
Entrou no hype da AI e criou um produto de sucesso;
Sobreviveu a um desafio que quase acabou com seu negócio.
Rápido contexto
Em 2021, Tony largou seu emprego para se tornar um Indie Hacker. Antes disso, havia trabalhado durante 7 anos como desenvolvedor sênior. Sempre foi apaixonado por “codar”, e sua primeira lembrança como desenvolvedor foi no ensino médio, enquanto brincava com Visual Basic 6. Desde sempre teve side projects em todas as suas passagens por empregos.
Suas principais skills eram: frontend, backend, DevOps, mobile apps, game dev e um pouco de UX/UI design.
Comunidade Indie Hacker
Em 2020, durante a pandemia, Tony estava trabalhando remotamente, em um país estrangeiro. Eram tempos difíceis e muito entediantes. Eis que ele descobriu o portal IndieHackers e passou a consumir diariamente seus podcasts.
Várias referências de Indies passaram por lá, tais como Pieter Levels, Kyle Gawley, Jon Yongfook, etc.
Essa inspiração era o que faltava para o Tony voltar a fazer o que amava: construir produtos.
Primeiro Micro-SaaS: Log Viewer (Mac app)
Foram 6 meses construindo o projeto do Log Viewer, que acabou sendo engavetado. O motivo? Muitas funcionalidades, uma arquitetura robusta e muitos testes.
Focou em construir o perfeito, e não lançou seu negócio.
I felt like the project would never finish.
Seu projeto não chegou a faturar, mas ficaram alguns aprendizados sobre lançar rápido.
Segundo Micro-SaaS: DevUtils
Um mês depois de seu primeiro projeto engavetado, Tony resolveu dar início ao segundo projeto, e fez diferente: construiu e lançou em 2 semanas o DevUtils.
Em poucas palavras, o DevUtils unifica várias ferramentas que os desenvolvedores utilizam no dia a dia, em uma única interface que funciona offline no Mac.
Seu lançamento foi, inicialmente, para amigos, família e colegas do trabalho. Os feedbacks foram super positivos, e isso incentivou Tony a lançar no mercado.
Em seguida, ele publicou sobre o projeto no Hacker News (portal da YC de notícias), e seu post teve vários feedbacks positivos, além de ficar no “trending” por algumas horas.
Assim, Tony teve seu primeiro cliente digital. 💰
Construindo audiência
Depois de conseguir um pico de acesso através do Hacker News e de um post no Product Hunt, Tony percebeu que não estava mais gerando acesso para seu site. Nesse cenário, tentou de tudo:
Google Ads;
SEO;
Patrocínio em newsletter/YouTube videos;
E vários outros canais.
O SEO talvez gerasse resultado, mas era incerto, tanto pela experiência do Tony no tema como pela demora do retorno.
Foi aí que Tony se lembrou do Twitter e da comunidade do #BuildinPublic.
A ideia era simples: montar audiência para gerar tráfego para seu SaaS.
Inicialmente, Tony postava bastante sobre seu projeto, mas não era o suficiente para gerar engajamento da audiência. Foi então que ele concluiu que, para conseguir crescer sua conta, precisaria fazer o que sabe fazer bem: codar.
Usando suas habilidades, começou a lançar vários pequenos “projetos” para gerar engajamento.
Assim, Tony decidiu que iria investir no Twitter, e começou a engajar com sua audiência. Em 6 meses, saiu de 100 para 700 seguidores, e continuou crescendo.
Perto de chegar aos 1.000 seguidores, Tony decidiu começar um projeto “por diversão” para comemorar (e claro, trazer mais seguidores).
Ao olhar a API do Twitter, percebeu que era possível mudar a foto do perfil. Então, teve a sacada de construir um pequeno script que mostraria uma “barra de progresso” ao redor da foto, que se completaria quando atingisse 1.000 seguidores.
Seus seguidores amaram tanto a ideia, que Tony transformou o script em um Micro-SaaS - cobrava $4 por assinatura, e as pessoas podiam customizar a cor da barra de progresso. Tudo isso aconteceu enquanto ainda trabalhava formalmente em uma empresa.
Da formalidade para full-time Indie Hacker
Depois de alguns meses construindo audiência e empreendendo online, Tony já tinha:
~$300 MRR do Black Magic;
~$200 MRR do DevUtils;
~8.000 seguidores;
~1.500 usuários ativos (usuários de trial).
Nesse exato momento, no dia 20 de setembro de 2021, Tony decidiu mergulhar de cabeça e começar sua jornada em tempo integral como um Indie Hacker.
A respeito disso, Tony comenta que o que lhe deu segurança para fazer esse movimento foi o fato de que ele tinha feito uma poupança durante 2 anos em que estava empregado, o que lhe renderia 4 anos sem precisar trabalhar, além de morar no Vietnam (sua cidade natal). Ou seja, seu “colchão” estava bem sólido para tomar risco, além de que não era casado ou tinha filhos.
Ramen Profitability no 1º ano
Com o passar do tempo e com as novas funcionalidades sendo construídas, Tony decidiu lançar uma funcionalidade que foi um divisor de águas em sua carreira - a Magic Sidebar.
Essa funcionalidade mudou o destino de seu Micro-SaaS para sempre. Migrou de uma ferramenta divertida (nice to have) para uma ferramenta que resolvia um baita problema que muitas contas grandes tinham na época (must have).
No começo, era uma extensão do Chrome. Depois, o aplicativo inteiro do Black Magic pivotou em torno dessa funcionalidade, que se tornou a principal proposta de valor.
Depois de alguns meses construindo, pegando feedbacks e refinando sua nova proposta de valor, começou a vir o resultado: $4k de MRR (R$ 20k mês).
Nômade Digital
Nos primeiros meses depois de deixar o emprego, Tony trabalhava muito - alguns dias chegava a trabalhar até 16h. Logo de cara, percebeu que o crescimento estava sendo exponencial, e ele não precisava “correr” para aumentar seu faturamento. Ele iria chegar lá, eventualmente.
Foi aí que decidiu começar a viajar e viver como um nômade digital pelo Vietnam, trabalhando cerca de 4 horas por dia.
Inclusive, em setembro de 2022, Tony foi convidado para participar de um podcast que ele mesmo escutava e que o inspirou a se tornar um Indie Hacker. Foi uma super conquista emocional para ele.
E logo mais, em outubro do mesmo ano, seu Micro-SaaS Black Magic atingiu $13k de MRR (R$ 71k mês), de forma estável e com um churn controlado.
Terceiro Micro-SaaS: Xnapper
Entre o Black Magic e o DevUtils, Tony tentou lançar outros projetos, mas que não vingaram (e dizem que o segredo é só ter audiência, né? Mas, não é!) - como EmojiAI e AskCommand. Em um desses projetos, surgiu o Xnapper, que acabou chamando a atenção de sua audiência e, logo após o lançamento, atingiu $6k de MRR (R$ 33k mês).
A vantagem para Tony, como um desenvolvedor Indie, era que, quando se entediava com um projeto, trabalhava em outro. Isso o ajudava muito a controlar o seu stress.
Além de que, todos os projetos geram conteúdo para seu Twitter e, consecutivamente, isso fazia aumentar sua audiência todos os dias.
Veja meu vídeo sobre o assunto: O cassino dos desenvolvedores.
Outra lição bacana sobre #Buildinpublic que é possível observar da história de Tony é que alguns posts específicos viralizavam e traziam muitos leads para seus apps - um marketing quase gratuito, de certa forma.
Risco de plataforma
Quando estava desenvolvendo seu terceiro projeto, o X (antigo Twitter), adquirido por Elon Musk, anunciou que a API não seria mais gratuita, com um novo valor de $42k mês (R$ 210 mil reais mês). Na época, seu Micro-SaaS estava faturando $14k de MRR. Longa curta história, ele vendeu seu projeto por $128k (R$ 704 mil reais) no Acquire.
Saiba mais sobre riscos de plataforma neste artigo.
Quarto Micro-SaaS: Typing Mind
A ideia do quarto Micro-SaaS veio quando a OpenAI anunciou a API do ChatGPT. A verdade é que a interface era muito limitada, não permitia pesquisas de conversas antigas, o texto era lento, o usuário precisava relogar todos os dias novamente, além de várias outras pequenas coisas frustantes.
Na época, Tony queria desenvolver uma pequena extensão para resolver seus problemas de UX com o ChatGPT, mas, como um bom Indie Hacker, percebeu a oportunidade de fazer um MVP da ferramenta durante um final de semana, e lançou no Twitter.
Em 7 dias, fez $22k de vendas vitalícias (para validar se havia dor/mercado), e concluiu claramente que aquilo fazia todo o sentido. Então, investiu mais tempo e energia nessa ferramenta, que acabou virando seu principal foco. Em alguns meses, atingiu $30k de MRR (R$ 165k mês).
O Renato Asse, inclusive, fez um vídeo no YouTube falando do sucesso da ferramenta.
Construindo um time
Depois de 2 anos como Indie Hacker, uma das mudanças que ocorreu foi a decisão de Tony de montar uma equipe pequena - apesar de sempre ter preferido trabalhar sozinho, por não ter disposição para fazer reuniões.
Para Tony, com o passar do tempo, fazer as mesmas atividades tornou-se um processo muito entediante e repetitivo. Atividades como suporte ou algumas tarefas de desenvolvimento, que com o tempo perderam a graça, precisaram ser repensadas.
Então, ele contratou 1 pessoa full-time para contribuir na produzir conteúdo, marketing e suporte, e 3 freelancers part-time para trabalharem no desenvolvimento de seus Micro-SaaS.
Com o time trabalhando redondo e os clientes felizes, Tony voltou a trabalhar suas 4 horas por dia, apenas nas coisas que lhe dão prazer - como experimentar novas funcionalidades ou produtos. E o que ele faz com as outras 20 horas do dia?
O empreendedor life style business
Depois de 2 anos trabalhando como um nômade digital, Tony aprendeu algumas coisas.
As boas
Liberdade: essa é a maior e mais importante de todas.
Ao atingir o Ramen Profitability, Tony conseguiu equilibrar o “work-life-balance” que muitos empreendedores buscam. No seu tempo livre, agora, ele pode se dedicar mais aos hobbies que ama, como surfar, lidar com hardware, viajar e jogar videogame.
O salário também melhorou bastante. Em seu último emprego, ganhava $9k por mês, e atualmente, ganha $45k por mês (R$ 247k por mês). Para ganhar isso como um funcionário, ele teria que, no mínimo, ser muito bom em desenvolvimento (e política corporativa).
Ao rodar uma empresa, ele aprendeu, também, várias novas habilidades, como marketing, finanças, jurídico, parcerias, vendas, etc. Um empreendedor digital completo.
As ruins
Começar do zero.
Começar um produto do zero, sem clientes, sem audiência, sem nada, é muito difícil.
Inclusive, a recomendação que ele dá é de que ninguém saia do emprego sem ter uma receita recorrente mínima de seus Micro-SaaS, além de uma boa grana reserva.
Além disso, trabalhar em side projects também pode ser estressante. Tony diz que acabou tendo sorte em alguns aspectos, como, por exemplo, no fato de não ter tido família para cuidar. Para muitos, empreender fora do horário da CLT é um grande desafio quando se tem esposa (ou marido), filhos, etc. No fim, não sobra muita energia, e o risco é muito maior no caso de fracasso.
Os riscos
Para Tony, mesmo tendo Micro-SaaS de sucesso, os riscos ainda continuam.
O faturamento vai flutuar, o mercado pode mudar, a competição vai surgir e você provavelmente vai errar. Além de que, qualquer coisa que afeta você também afeta seu negócio.
Veja o que aconteceu com o Black Magic. Se Tony não tivesse conseguido lançar o TypingMind tão rapidamente e estivesse com pouco dinheiro, ele teria entrado em uma espiral, e viveria um momento estressante.
Este, inclusive, é o principal motivo que, para ele, ter um portfólio de Micro-SaaS é tão importante.
A vida social
Tony comenta que sacrificou toda sua vida social e networking.
It gets very lonely.
É difícil manter relacionamentos, no geral. Comenta que acha difícil manter relacionamento com pessoas com as quais não têm tópicos em comum para conversar.
Para ele, só existe a comunidade Indie, pois estão todos viajando pelo mundo. Até considerou se mudar para algum Indie Hub mundo afora, como em Bali ou Lisboa, mas duvida que isso vá resolver essa solidão no longo prazo.
Hoje, seus amigos são sua audiência no Twitter.
Visão de futuro
Tony ainda não tem clareza dos próximos passos.
No momento, só tem algumas regras: ficar saudável, ganhar dinheiro fazendo coisas que está interessado, e nunca sacrificar sua liberdade.
Work and enjoy life at the same time.
O plano no curto prazo mantém-se em continuar trabalhando em seus produtos, com o TypingMind sendo o principal, junto aos seus outros dois projetos. E provavelmente, haverá um novo produto em breve :)
Lições para os Indie Hackers
Não existe fórmula de sucesso. Cada um trilha seu caminho e sua história. Não existe um “único caminho” ou o “melhor caminho”. Existe um caminho, e é preciso ver se ele funciona para você.
Se você for trabalhar sozinho, seja um generalista. Saiba um pouco sobre tudo. Por exemplo, se você é desenvolvedor, não se restrinja a trabalhar apenas como frontend dev - tente fazer um pouco de backend, mobile, design, marketing, etc. Use a regra do 80/20; sendo 20% seu esforço para capturar 80% do valor.
Construa vantagens para si mesmo: para Tony, sua maior vantagem competitiva é sua habilidade de codar. Ele pode construir apps muito rápido, porque já faz isso há muitos anos. Se você não tem uma vantagem, encontre ou construa hoje.
Monte uma audiência. Isso não é para todos, mas se você puder, tente. O efeito é exponencial. Ao sair de 0 para 100k seguidores em 2 anos, isso se tornou uma vantagem competitiva.
Lance rápido, pequeno e frequentemente. Não fique preso em uma ideia por muito tempo se não funcionar. Construa uma “memória muscular” para lançar produtos mais rapidamente.
Ao construir produtos, foque no valor que ele gera para o cliente e não no que ele resolve. Pratique ver seu produto pelos olhos de seu cliente para evitar desenvolvimento em excesso. Converse com seus clientes e os envolva no processo de construção.
Concluindo, Tony diz que um dos pilares do seu sucesso foi a comunidade.
E é a mesma comunidade que estou construindo no Brasil.
Obrigado por ler até aqui :)
Excelente artigo!
Genial!